terça-feira, 16 de janeiro de 2018

PEDAGOGIA DA AUTONOMIA

IMPRESSÕES SOBRE O LIVRO “PEDAGOGIA DA AUTONOMIA”. PAULO FREIRE



No prefácio assinado por Edina Castro de Oliveira, ela nos aponta que o livro destaca como fundamentos da Pedagogia da Autonomia: a ética, o respeito a dignidade e a autonomia do educando. Aponta também que a convivência respeitosa deve levar os educandos a “se assumirem enquanto sujeitos  sócios-históricos-culturais (p.7). Sem abrir mão da competência e da rigorosidade metódica necessária ao bom desenvolvimento do processo de aprendizagem.

O educador progressista deve equilibrar o discurso com a prática pedagógica, rompendo paradigmas do tipo: " o professor é o único detentor do saber". Ao fomentar no ambiente da sala de aula os valores acima citados, criará condições para o amplo desenvolvimento das partes, ou seja, professor e aluno. Acontecerá ai um processo de humanização nas relações no ambiente escolar.

A esta nova forma de pensar o processo de ensino/aprendizagem dá-se o nome de Pedagogia da Autonomia, por romper com valores tradicionais até então presentes, em que a linha de trabalho baseia-se na transferência do conhecimento do professor para o aluno, de forma metodicamente engessada. O rompimento com esse modelo tem como base o reconhecimento do educando como sujeito individual, que consigo traz valores, concepções, carga cultural, etc.

A partir daí a metodologia  de ensino será fundamentada na troca de conhecimentos e não na simples transferência. Ou seja, haverá uma solidariedade pedagógica, que necessariamente terá como princípio o respeito aos diferentes pontos de vista. 

Todos se posicionarão, pois segundo o autor:

O erro na verdade não é ter um certo ponto de vista, mas absolutizá-lo e desconhecer que, mesmo do acerto de seu ponto de vista é possível que a razão ética nem sempre esteja com ele. (Freire 1996, p.9).

Com esses pressupostos, a construção do conhecimento será salutar e libertadora. Formando mutuamente educadores e educandos. Pois o autor insiste ainda na tese de que "na relação professor/aluno não há o detentor do saber e o que nada sabe. Todos sabem e todos aprendem, não existe ensinar sem aprender e nem aprender sem ensinar".

A Pedagogia tradicional oprime e reforça o conformismo, a dominação do sistema. Apesar disso, o educando pode e deve ir além, ao questionar regras, valores e paradigmas. Os educadores progressistas, contrapondo esse modelo, devem desenvolver uma metodologia  que instigue os educandos à busca do saber mais aguçado, que vai além da simples absorção do conhecimento, sendo sujeitos fundamentais no processo de aprendizagem.

Percebe-se, assim, a importância do papel do educador, o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos mas também ensinar a pensar certo. (Freire 1996, p.14).

A educação será conscientizadora e consequentemente libertadora e transformadora, se junto aos saberes tradicionais venha a colocação sobre a realidade dos educandos. Nesse contexto, não há uma ruptura com o saber tradicional, mas uma superação que não os dissociam. É o despertar da curiosidade epistemológica fundamental, que faz parte do fenômeno vital. Que faz e refaz a história do desenvolvimento humano (Freire, 1996).

O autor afirma ainda que o diálogo entre o professor e o aluno começa pela percepção e abertura do primeiro para o segundo. A partir daí a visão sobre o educando será a de um sujeito ativo no processo educativo. Trazendo suas concepções e pontos de vista que somados às do educador e aos saberes tradicionais da grade escolar vão construir o processo de ensino/aprendizagem. A superação dos obstáculos ao diálogo passa portanto por esta predisposição ao novo, ao saber ouvir, à discussão franca e respeitosa.

Esta nova metodologia pedagógica supera a concepção bancária da educação, na qual o processo de ensino/aprendizagem pressupõe a mera transmissão do conhecimento, em que o educando é um sujeito passivo à doutrinação para servir ao sistema e a criatividade dos professores e alunos é podada. Esse modelo pedagógico deve ser superado, principalmente pela rebeldia das partes envolvidas, levando ao rompimento da opressão através do questionamento dos valores e regras. Mesmo dentro do processo tradicional as atitudes de rebeldia podem e devem ser fomentadas, na busca do saber que vai além da simples absorção de conhecimento teórico/técnico.

Professor e aluno, juntos enquanto sujeitos históricos devem construir uma prática independente e coerente. Freire chama isso de superação da curiosidade ingênua que faz parte do "fenômeno vital" do desenvolvimento humano. Há de se fomentar a curiosidade metódica , crítica, ética e transformadora. Que supera os valores caducos que tendem a dificultar a criticidade.

Entretanto é necessário que os saberes e as novas práticas  sejam aplicados concomitantemente ao testemunho do educador, pois só assim será estabelecida a comunicação, ou seja, a partilha do conhecimento. Como destaca Freire (p.16):

O professor que realmente ensina, quer dizer, que trabalha os conteúdos no quadro da rigorosidade do pensar certo, nega, como falsa, a fórmula farisaica do "faça o que mando e não o que faço".

A riqueza do livro reside na conscientização sobre o papel do educando como sujeito individual e independente no processo de ensino/aprendizagem e a importância do educador na construção de uma educação verdadeiramente libertadora, que nega a mera doutrinação. Porém esta conscientização deverá atingir toda a comunidade escolar.


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